A castelense Maria Vicência Tosi Cristo, 65 anos, recebeu o nome em homenagem à Irmã Vicência, idealizadora da Festa de Corpus Christi, que fez o parto de sua mãe na Santa Casa de Castelo e foi também a responsável pela sua catequização. Era próxima e muita querida da sua família. Ela diz que a religiosa deixou boas lembranças e muito aprendizado.
A mulher conta que cresceu muito próxima da irmã e que ela sempre a acompanhou e visitou. Ainda se recorda que bem novinha, durante a festa, fazia o percurso da capelinha da Santa Casa até a Igreja Matriz vestida de anjo, o que muito a emocionava.
Nossa entrevista foi na Capelinha da Santa Casa, onde, com outras meninas, que faziam parte do grupo Luísas de Marilac, ou a maior parte de sua infância convivendo com a freira, rezando e ajudando nas suas atividades de solidariedade e amor. “Aqui na capelinha me sinto em casa. Ela é um pedacinho do céu”, enfatiza.
A castelense diz que o amor de sua família pela Festa de Corpus Christi era tão grande que seu pai, para agradar à religiosa, fez um plantio de flores crista de galo, cravo da índia e moça velha exclusivamente para a confecção dos tapetes. Ainda criança, começou a ajudar o pai a plantar, cuidar e colher durante todo o ano para entregar a colheita à Irmã Vicência. “Íamos ampliando a área plantada de acordo com a necessidade dela. Fazíamos isso com muito amor e dedicação”, relata.

A mulher se emociona ao relembrar desse fato. “Eu não sou artista, não tenho habilidade, mas o que podia fazer era isso e fiz com o maior amor do mundo. Até me emociono ao falar nisso”, frisa. Outra ação de Vicência era servir lanche para os voluntários que trabalhavam na Festa de Corpus Christi. “Eu cresci e comecei a servir lanche em frente à Igreja Matriz para os que estavam trabalhando. Chocolate quente não podia faltar porque antes fazia muito mais frio nessa época”, conta.
Vicência se afastou por um longo período após o casamento, quando ou a se dedicar às lidas da casa e à criação dos filhos, e retornou há quatro anos. Atualmente é uma das voluntárias que ajuda na pesquisa realizada pelo Instituto Cultural Irmã Vicência com o objetivo de avaliar a satisfação dos turistas e moradores com o evento.
Jejum e oração
Vicência faz questão de relatar as memórias que tem das visitas que a irmã de caridade fazia na propriedade rural da família, que tinha fartura de frutas, verduras e legumes. “Todos que estavam com ela comiam. Mas a Irmã Vicência nunca comeu nada. Nós das Luísa de Marilac nunca a víamos comer. Ela nunca se alimentou na nossa frente”, rememora.
Só bem mais tarde a castelense diz ter entendido que a Irmã Vicência vivia em jejum e oração, e por isso era uma pessoa tão abençoada, e que ela e sua família a tinham como uma santa, já que enquanto ela viveu nenhuma família de Castelo ava fome porque ela percorria os sítios e propriedades da região e arrecadava produtos que havia com fartura e dividia para os mais vulneráveis e para os doentes. “Era um tempo de partilha e amor muito bonito. Nenhuma família pobre e nenhum doente ficava sem comida, sem remédio e sem oração”, recorda.
Saudade das primeiras festas

A mulher diz que sentia muita saudade das festas organizadas pela Irmã Vicência, especialmente dos cheiros que sentia durante o percurso dos tapetes. E que felizmente, recentemente, um pouco dessa saudade foi suprida com a retomada dos temas religiosos e por causa do cheirinho daqueles bons tempos que retornaram aos tapetes.
“Esse é um momento de fé e ficava triste porque entendia que havia pouco Jesus nos tapetes e adeiras, fugindo do objetivo original da Irmã Vicência, que sempre foi evangelizar com aquelas imagens. E agora essa tradição foi resgatada”, comemora.
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